BAD BEHAVIOR

Depois de uma interessante conversa, não recomendada a pessoas mais sensíveis (!), sobre Serial Killers, fiquei com vontade de escrever algo sobre esta temática, ao mesmo tempo sinistra e fascinante. Fascinante? Sim, fascinante… Então como se justifica o sucesso de séries televisivas como: Dexter, Criminal Minds, e tantas outras do género?!...

[Die This Way by Daniel Licht & Jon Licht from the Dexter Soundtrack (Music from the Showtime Series)]


Vou tentar fornecer alguns elementos (sem serem inovadores) que ajudem a perceber a natureza da tortuosidade do ato e da mente que o pratica.
Este é, felizmente, um fenómeno que em Portugal é raro e bastante espaçado no tempo. Historiando, e antes de ir ao cerne da questão, recordo-vos alguns casos ocorridos no nosso país. 
Temos o que foi protagonizado por Diogo Alves, um espanhol residente em Lisboa, que, entre 1836 e 1839, assassinou algumas dezenas de cidadãos da capital no Aqueduto das Águas Livres, atirando-as dali abaixo. Pensa-se que muitos dos seus crimes terão sido instigados pela sua companheira de nome Parreirinha. Foi condenado à morte e enforcado em 1841. Este terá sido, porventura, o mais mortífero dos assassínios em série de Portugal
Já no século XX há vários casos. Na década de 60 e 70, José Domingues Borrego, pastor na região de Penamacor, assassinou vários homossexuais e, mais tarde, um colega de trabalho. Ao ser condenado disse ter sido incumbido de uma “missão purificadora”.
Em 1974, Domingos Pereira matou a mulher e mais duas companheiras. Em 1987, Vitor Jorge, pessoa tida como tranquila e reservada, assassina sete pessoas incluindo a sua amante, dois casais seus amigos, a mulher e a filha mais velha. Estes atos tresloucados ficaram conhecidos como “o crime da Praia do Osso da Baleia”, embora a morte da mulher e da filha tenham ocorrido noutro local (há especialistas que dizem que este crime não reune características psicológicas e de atuação que o permitam declarar como assassínio em série).
Decorria o ano de 1992 e dá-se entre nós o crime mais intrigante e insolúvel de todos (apesar das recentes notícas). É o caso do “Estripador de Lisboa”, que assassina várias prostitutas, algumas seropositivas, retalhando-as e essventrando-as à “boa maneira” do seu homólogo londrino do século XIX “Jack”, que também escolheu prostitutas para consumar os seus hediondos crimes. Nunca o nosso estripador (salvo seja) foi apanhado, apesar da inequívoca eficácia da polícia portuguesa…
Bom, e quanto às caraterísticas dos assassinos em série? Começo por definir o assassino em série dizendo que este é alguém que reincide nos seus homicídios pelo menos três vezes e com intervalos de tempo variáveis, que poderão ir da regularidade (talvez reflexo de uma natureza metódica ou, mesmo, obsessiva) à imprevisibilidade temporal.
Nos períodos que medeiam os crimes estes indivíduos têm, geralmente, comportamentos considerados normais, inserindo-se no seu nicho biopsicossocial de modo, aparentemente, adequado. São, não raro, membros respeitados no meio a que pertencem, cidadãos ativos e preocupados com as problemáticas sociais. É a chamada fase de “cooling-off”, durante a qual apresentam a que podemos chamar uma “máscara de sanidade mental”. A motivação sexual é um dos principais motores deste tipo de crimes, mas nem sempre está presente (vejamos o caso de Diogo Alves, cujo móbil era o roubo). Muitas vezes a razão de base é uma afirmação, doentia, de poder sobre as vítimas.
Os antecedentes pessoais dos homicidas são variados, não se podendo, no entender dos especialistas, falar num modelo único de referência. Assim, alguns revelam grandes dificuldades ao nível da integração social, enquanto outros, tal como já referi, estão perfeitamente integrados no seu meio sociofamiliar e profissional. Por outro lado, há assassinos em série que têm histórias de assedio psicológico e/ou sexual, enquanto noutras nada disso se assinala. Na realidade este tipo de crimes constitui, muitas vezes, um quebra-cabeças para os especialistas, embora a grande maioria se possa incluir no grupo dos psicopatas ou dos sociopatas.
A fantasia patológica parece ser comum a todos os assassinos em série, que muitas vezes começam a manifestar pulsões de morte e destruição durante a infância e a adolescência, sem que isto seja suficientemente evidente ou valorizado para com quem com eles convive (tendência para a destruição compulsiva e/ou zoo-sadismo). Na maioria dos casos os assassinos em série são do sexo masculino. Existem dois grandes tipos: os organizados e desorganizados. Os primeiros são, regra geral, intelectualmente diferenciados, metódicos, simpáticos para as vítimas como forma de as atraírem, cometem o crime num local e depositam os corpos noutro.
Muitos possuem bons conhecimentos forenses e sentem-se orgulhosos dos seus atos que identificam como “missões nobres e incontornáveis”. Pelo contrário, os segundos apresentam-se com baixo grau de diferenciação intelectual e cometem os crimes de forma impulsiva, matando sempre que há oportunidade para tal. Deixam, muitas vezes, pistas inequívocas que permitem a sua rápida captura, ao contrário dos primeiros. Sofrem, com frequência, de bloqueios mnésicos relativamente aos crimes cometidos.
Um número significativo apresenta caraterísticas dos dois grupos. Com o andar dos tempos, e à medida que o número de homicídios aumenta, alguns “organizados” tornam-se, progressivamente, “desorganizados”.
Quando da tentativa para consumar o homicídio optam por uma contacto direto com as vítimas, com o uso de armas brancas, o estrangulamento e o recurso a objetos contundentes a assumirem-se como os meios de eleição. São muito raras as situações de agressão com arma de fogo.
Ao serem capturados, muitos dos assassinos em série confessam sem problemas de maior os seus crimes, manifestando um hedonismo exacerbado. Os atos cometidos têm, muitas vezes, uma “auréola ritualística” bastante evidente.
Apesar de muito ter ficado por dizer, tentei tecer algumas considerações que permitam ter um conhecimento global do fenómeno “assassínio em série”.

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