Criatividade


Não são os momentos mais depressivos que me inspiram. Mas também não são os mais felizes. Acho que as pessoas são mais criativas quando se 
encontram um pouco desestabilizadas.
Jean Paul Gaultier

Efeitos terapêuticos de se ser blogger!



Cientistas e escritores há anos que conhecem os benefícios terapêuticos de escrever sobre experiências pessoais, pensamentos e sentimentos. Mas, além de servir como um mecanismo para aliviar o stresse, expressar-se por meio da escrita traz muitos benefícios fisiológicos. Pesquisas mostram que com a prática da escrita é possível aprimorar a memória e o sono, estimular a atividade dos leucócitos e reduzir a carga viral de pacientes com SIDA e até mesmo acelerar a cicatrização após uma cirurgia.

Um estudo publicado na revista Oncologist mostra que as pessoas com cancro que escreviam para relatar os seus sentimentos logo depois, se sentiam muito melhor, tanto mental quanto fisicamente, em comparação a pacientes que não desenvolviam este tipo de atividade.

De acordo com a neurocientista Alice Flaherty, da Universidade de Harvard e do Hospital Geral de Massachusetts, a teoria do placebo para o sofrimento pode ser aplicado neste caso.

A reclamação, por exemplo, funciona como um “placebo para conseguir satisfação”, afirma Flaherty. Usar o blog para “colocar a boca no mundo”, expressar insatisfação e partilhar experiências stressantes pode funcionar da mesma forma.

Flaherty, que estuda casos como hipergrafia (desejo incontrolável de escrever) e também o bloqueio criativo, analisa modelos de doenças que explicam a motivação por trás dessa forma de comunicação.
Por exemplo, as pessoas em estado de mania (pólo oposto à depressão, característico do transtorno bipolar) geralmente falam demais. “Acreditamos que algo no sistema límbico do cérebro fomenta a necessidade de a pessoa se comunicar”, explica Flaherty.
Localizada principalmente no centro do cérebro, essa área controla motivações e impulsos relacionados com a comida, sexo, desejo e iniciativa para a resolução de problemas.

“Sabemos que há impulsos envolvidos na criação de blogs, pois muitas pessoas agem de forma compulsiva em relação a eles. Além disso, o hábito de mantê-los atualizados pode desencadear a libertação de dopamina, os estímulos são similares aos que temos quando escutamos uma música, comemos ou apreciamos uma obra de arte”, diz Flaherty.

Liberdade


A LIBERDADE é um dos dons mais preciosos que o céu deu aos homens. Nada a iguala, nem os tesouros que a terra encerra no seu seio, nem os que o mar guarda nos seus abismos. Pela LIBERDADE, tanto quanto pela Honra, pode e deve aventurar-se a nossa vida.
 Miguel Cervantes, in D. Quixote




ESQUECIMENTOS, enganos e lapsos


Hoje, quando estava de saída para o trabalho, tive de regressar três vezes a casa antes de conseguir sair definitivamente: da primeira vez porque me tinha esquecido do computador, da segunda porque me tinha esquecido da carteira e da terceira das chaves do carro.
Como explicar esta “enxurrada” de esquecimentos?

Freud, num livro que originalmente foi escrito há mais de um século, diz-nos que os esquecimentos, os lapsos e os enganos não ocorrem apenas porque somos distraídos ou desastrosos. São sim a expressão inconsciente de um desejo ou de um conflito interno.
Quando tentamos perceber as razões subjacentes aos nossos atos falhados, deparamo-nos com uma riqueza de motivos que remetem para os nossos desejos. Desejos esses profundos e por vezes inconfessáveis!

Alguns desses atos falhados são tão grosseiros que se interpretam facilmente, outros são tão refinados que as interpretações que podemos deles fazer parecem demasiado rebuscadas.
Sigmund Freud, considerava que estes atos falhados eram a manifestação na vida do quotidiano do funcionamento patológico do aparelho psíquico. Para ele, os esquecimentos, lapsos e enganos não são fruto da arbitrariedade psíquica (como as distrações, por exemplo), mas sim formas legítimas e racionais de exteriorizar a nossa ambivalência e os nossos conflitos internos.

Segundo Freud, o comportamento do ser humano é determinado por motivos profundamente armazenados no inconsciente e que se manifestam nalgumas circunstâncias particulares: através dos sonhos e das doenças, mas também através de esquecimentos, lapsos e enganos. A forma como esses motivos se manifestam ao nível dos comportamentos muitas vezes dificulta a sua correta interpretação, pois põe em causa a imagem oficial que temos de nós mesmos.

Há algumas pessoas que trocam sistematicamente o nome do filho (Rui) pelo do neto (Rodrigo), do neto (Rodrigo) pelo do tio (Diogo), do tio (Diogo) pelo do filho (Rui), num ciclo que se repete sistematicamente. A troca dos nomes possui dois fortes motivos subjacentes: as semelhanças fonéticas existentes entre os nomes e as semelhanças psicológicas entre os indivíduos.

E essas semelhanças psicológicas podem ser derivadas do facto dos indivíduos possuírem características em comum (como alguns traços de personalidade, por exemplo), ou serem desprezados por quem está constantemente a trocar os respetivos nomes.
O nosso nome é um dos principais distintivos da nossa pessoa. Quando alguém que nos é próximo está constantemente a trocar o nosso nome por o de outro indivíduo, esse comportamento não é uma mera distração, pois é uma forma de explicitar o nosso menosprezo por cada um desses indivíduos, que inconscientemente são considerados tão semelhantes que se confundem entre si.

Não é devido ao acaso que muitas vezes quando escutamos frases como “Amanhã não te esqueças de trazer o livro!” ocorre exatamente o oposto do inicialmente pretendido: esquecemo-nos de levar o livro tão desejado (eu esqueço-me sempre!!!!).

Porquê? Muitas vezes como forma de agressão a quem manifestou declaradamente que somos crianças descuidadas, que necessitamos de ser lembrados constantemente das coisas para não nos esquecermos de nada (em geral as crianças são patologicamente saudáveis na sua capacidade de se esquecerem das coisas que não gostam ou não apreciam).


É muito mais fácil interpretarmos o nosso esquecimento como fruto da distração, da pressa ou de qualquer outro motivo do mesmo género: “Errar é humano”. Percebermos e aceitarmos que o nosso esquecimento visa agredir, denegrir ou menosprezar o outro torna-se muito mais difícil, pois demonstra a existência de sentimentos e emoções que não estão conformes com a imagem que queremos mostrar aos outros e que temos de nós mesmos.

Os motivos dos meus esquecimentos desta manhã?!...Fazem parte daquele leque de  desejos inconfessáveis!!!

Saiba mais:
Freud, S.: “Psicopatologia da Vida Quotidiana”. Lisboa: Relógio d’Água, 2003.

A Amizade


De todos os relacionamentos que temos, são os nossos amigos que revelam mais claramente o tipo de pessoa que somos.

Se quisermos compreender alguém basta-nos olhar para o seu círculo de amigos, o qual nos dirá quais são os seus valores e as suas prioridades – afinal, tal como é muitas vezes demonstrado, o semelhante atrai o semelhante.

O homem é um ser sociável, não nasceu para viver só. A família, lugar onde acontecem os primeiros relacionamentos, não se escolhe, nessa o indivíduo nasce, é criado, e forma os primeiros vínculos afetivos. Mas a amizade é possível selecionar.

Amizade é um sentimento de lealdade, confiança e amor, muito importante na vida. Lealdade essa, expressa através de manifestações de carinho como abraços, telefonemas, beijos, …Um sentimento que não depende da faixa etária, status, …, ou seja, a amizade é o encontro entre duas pessoas que decidem colocar-se no mesmo plano, onde não há diferenças, ninguém é superior ou inferior.

A amizade nasce espontaneamente, desenvolvendo-se gradativamente, caracteriza-se por uma grande afinidade baseada no respeito, no carinho, na ternura, na compreensão e na troca. E as boas amizades são aquelas que nos ajudam a aperfeiçoar o nosso carácter moral, estimulam o nosso autodesenvolvimento e enriquecem a nossa vida interior.

Confúcio afirmou: ”Beneficia aquele que faz amizade com três tipos de pessoas. Da mesma forma, tem prejuízo aquele que faz amizade com outros três tipos de pessoas. Travar amizade com aqueles que são corretos, dignos de confiança e bem informados é ter benefícios. Travar amizades com aqueles que são insinuantes, de modos gentis e de discurso plausível é ter prejuízo”.

BONS AMIGOS
MAUS AMIGOS

Amigos Corretos. O amigo correto é sincero, tem uma espécie de abertura gentil e bondosa que nos envolve, sem o menor traço de bajulação. O seu carácter terá uma boa influência sobre o nosso próprio carácter. Dá-nos coragem quando nos sentimos tímidos, e infunde-nos uma atitude decidida e resoluta quando estamos hesitantes.

Amigos Bajuladores e Aduladores – Lisonjeadores sem Pudor. É frequente encontrarmos este tipo de pessoas na nossa vida. Não importa o que dissermos, eles dirão sempre: ”Isso é absolutamente brilhante”; façamos o que fizermos, o seu comentário será invariavelmente este: “Isso é admirável”. Nunca nos dirão que não. Pelo contrário, seguir-nos-ão com subserviência e ajustarão as suas palavras às nossas, lisonjear-nos-ão com os seus elogios.
Este tipo de amigo tem um grande talento para pesar as nossas palavras e avaliar as nossas expressões. Ajusta os seus comportamentos ao nosso gosto, tendo muito cuidado para não fazer nada que sinta que nos poderá desagradar.
É exatamente o oposto do amigo correto. O seu objetivo é fazer-nos felizes, mas apenas com o intuito de tirarem alguma vantagem de nós.


Amigos Leais e Confiáveis. Este amigo é sincero na sua forma de se relacionar com os outros e nunca é falso. O relacionamento com este tipo de amigo faz-nos sentir calmos, centrados e seguros, ele eleva o nosso estado de espírito.

Amigos de modos gentis, ou aqueles que têm duas caras. Ele é todo sorrisos e doçuras à nossa frente, radioso enquanto elogia e bajula; “um homem de palavras hábeis e de rosto insinuante!”. Mas nas nossas costas espalhará rumores e boatos maliciosos.
Este tipo de pessoa é falsa e hipócrita, o oposto da franqueza e da honestidade do amigo leal e digno de confiança.
Este tipo de pessoas são as verdadeiras “pessoas mesquinhas”.
No entanto, estas pessoas usam muitas vezes uma máscara de bondade. Pelo facto de terem um motivo dissimulado aparentam ser muito nossas amigas; podem ser dez vezes mais simpáticas connosco do que alguém sem segundas intenções. Por isso, se não tivermos cuidado e nos deixarmos manipular por uma pessoa destas, descobriremos que nos metemos a nós próprios numa armadilha. Isto constitui um teste ao nosso discernimento e à nossa compreensão das pessoas e do que se passa à nossa volta.


Amigos bem Informados. Este tipo de amigo possui um conhecimento muito vasto sobre muitos assuntos.

Amigos que têm um discurso plausível. Pessoas que se gabam a si próprias e que exageram. Normalmente as pessoas chamam-lhes “fala-baratos”.
Não há nada que este tipo de pessoas não saibam e nenhum raciocínio que não compreendam. Falam sem parar, levando-nos atrás do seu entusiasmo até ao ponto em que não podemos deixar de acreditar nelas. Mas a verdade é que, para além da sua loquacidade, não têm mais nada.
Existe uma clara diferença entre este tipo de pessoa e a pessoa “bem informada” e essa diferença é que a pessoa de “discurso plausível” nem tem qualquer talento ou conhecimento real. Uma pessoa que tem um discurso plausível tem uma língua astuciosa, mas não tem o correspondente conteúdo interior

Fonte: “Os ensinamentos de Confúcio

Se quisermos fazer bons amigos e evitar fazer maus amigos precisamos de duas coisas: a primeira é o desejo de fazer bons amigos e a segunda é a habilidade para os fazer...


Aqui fica a “lição” dada pela raposa ao Principezinho no livro: “ O Principezinho”, de Antoine de Saint-Exupéry.


“ – Anda brincar comigo – pediu-lhe o principezinho – Estou tão triste…
– Não posso ir brincar contigo – disse a raposa. – Ainda ninguém me cativou …
 Ah! Então desculpa! – disse o principezinho.

Mas pôs-se a pensar, a pensar, e acabou por perguntar:
– "Cativar” quer dizer o quê?
–  É uma coisa que toda a gente se esqueceu – disse a raposa. – Quer dizer criar laços…
– Criar laços”?
– Sim, laços – disse a raposa. – Ora vê; por enquanto tu não és para mim senão um rapazinho perfeitamente igual a cem mil outros rapazinhos. E eu não preciso de ti. E tu também não precisas de mim. Por enquanto eu não sou para ti senão uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativares, passamos a precisar um do outro. Passas a ser único no mundo para mim. E eu também passo a ser única no mundo para ti…

– (...) se tu me cativares, a minha vida fica cheia de sol. Fico a conhecer uns passos diferentes de todos os outros passos. Os outros passos fazem-me fugir para debaixo da terra. Os teus hão de chamar-me para fora da toca, como uma música. 
E depois, repara! Estás a ver aqueles campos de trigo ali adiante? Eu não gosto de pão e, por isso, o trigo não me serve para nada. Os campos de trigo não me fazem lembrar nada. E é uma triste coisa! Mas os teus cabelos são da cor do ouro. Então, quando tu me tiveres cativado, vai ser maravilhoso! O trigo é dourado e vai fazer com que me lembre de ti. E hei de gostar do som do vento a bater no trigo…

A raposa calou-se e ficou a olhar para o principezinho durante muito tempo.


– Por favor…cativa-me! – acabou finalmente por pedir.
–  Eu bem gostava – respondeu o principezinho -, mas não tenho muito tempo. Tenho amigos para descobrir e muitas coisas para compreender.
– Só compreendemos o que cativamos – disse a raposa. – Os homens deixaram de ter tempo para compreender o que quer que seja. Compram as coisas já prontas nas lojas. Contudo, não há nenhuma loja onde possa comprar-se amizade e, portanto, os homens deixaram de ter amigos. Se queres um amigo, cativa-me…
– E tenho de fazer o quê? – perguntou o principezinho.
– Tens de ter muita paciência – respondeu a raposa. – Primeiro, sentas-te longe de mim…assim…na relva. Eu olho para ti pelo canto do olho e tu não dizes nada. As palavras são uma fonte de mal-entendidos. Mas podes sentar-te cada dia um bocadinho mais perto…"
Antoine de Saint ExupéryO Principezinho

ENVELHECIMENTO e a Inteligência Emocional



“Quando uma existência digna preparou a velhice, não é a decadência que se recorda, mas sim os primeiros dias da imortalidade”
—Madame de Stael-Holstein

O envelhecimento, enquanto experiência psicoafetiva altamente exigente, está marcado por um conjunto de transformações de natureza diferente. Mudanças corporais que afetam em muitos casos a imagem que os indivíduos têm de si próprios, diminuição de algumas capacidades sensoriais ou lutos de pessoas próximas, que confrontam o indivíduo com a proximidade da sua própria morte, são apenas alguns exemplos dos desafios que uma pessoa de idade avançada tem forçosamente de enfrentar.

O idoso depara-se nesse sentido com um conjunto de transformações que exigem toda uma série de competências que contribuam para atravessar de forma ajustada esta etapa do seu percurso de desenvolvimento.
Algumas dessas competências estão associadas ao que vulgarmente se apelida de Inteligência Emocional. Apesar de relativamente pouco estudada entre os mais idosos, a IE abarca um conjunto de CINCO competências básicas, a saber:
  1. EMPATIA, que está relacionada com a facilidade da pessoa idosa identificar sentimentos, desejos e problemas dos indivíduos que a rodeiam, através, por exemplo, da leitura de comportamentos não verbais tais como o tom de voz, a postura corporal ou as expressões faciais daqueles com quem interagem;
  2. A SOCIABILIDADE, que consiste na capacidade de iniciar e preservar relações de amizade ao longo dos anos, independentemente da idade, sendo esta rede social de apoio decisiva para melhor se tolerar os desafios impostos neste momento tão sensível do desenvolvimento;
  3.  A AUTOMOTIVAÇÃO,  que está associada à capacidade de elaborar planos para a própria vida com esperança e otimismo, apesar de, no caso da pessoa idosa, se estar a atravessar as derradeiras etapas do ciclo de vida;
  4. O AUTOCONTROLO, que passa pela capacidade de lidar com os próprios sentimentos e impulsos gerados por situações, por exemplo, ligados à impossibilidade de realizar atividades que se constituiam antes como fonte de satisfação;
  5. A AUTOCONSCIÊNCIA, ligada à capacidade de identificar, nomear e avaliar os sentimentos, por exemplo, associados muitas vezes à reforma e à perda de status económico.
Como se desenvolvem estas competências ao longo da vida?
Se, por um lado, a investigação sugere que existe uma componente genética associada à inteligência emocional, pesquisas na área da psicologia do desenvolvimento têm vindo a demonstrar que as experiências relacionais que os indivíduos vão acumulando ao longo da vida modulam decisivamente os índices deste tipo de inteligência. Talvez nunca alcancemos uma resposta cabal a esta questão, mas um dado parece ser mais consensual: a inteligência emocional aumenta com a idade.

Ao contrário do que se passa com o declínio que algumas funções cognitivas sofrem em resultado do envelhecimento normal, grupos de pessoas mais velhas apresentam resultados significativamente superiores aos grupos mais jovens na maioria das dimensões da escala de inteligência emocional.

Mas se assim é, como se explica a cifra avultada de pessoas que sucumbem nesta fase da vida a perturbações psíquicas, como estados depressivos, perturbações de ansiedade e agravamento das perturbações de personalidade?

O que hoje se acredita ao nível da psicogerontologia é que o envelhecimento se constitui como uma etapa marcada por um potencial evolutivo. Torna-se necessário compreender as mudanças que ocorrem netsta altura da vida, à luz dos recursos que cada pessoa foi acumulado em resultado dos diferentes acontecimentos de vida e da forma como se foi organizando em resultado disso, ou seja, em função do nível de desenvolvimento emocional alcançado.

O Desenvolvimento Psicológico não fica portanto estagnado e se, em termos da personalidade, se regista uma tendência em termos da estabilidade, as possibilidades de mudança comportamental continuam em aberto, se bem que pessoas previamente melhor adaptadas encontrem um leque mais variado de alternativas.

Pensar, portanto, a inteligência emocional no âmbito da pessoa idosa passa, sobretudo, por um esforço de individualização, ou seja, mais do que darmos o trabalho por terminado no cálculo do quociente de inteligência emocional, torna-se mais importante que isso, perceber as suscetibilidades e os pontos de maior coesão em termos do funcionamento mental nas diferentes competências que este conceito compreende. Só assim estaremos efetivamente em melhores condições de avaliar o modo como esses recursos serão postos ao serviço do bem-estar psicológico da pessoa idosa, isto é, se se revelam insuficientes para fazer frente aos desafios que o envelhecimento coloca, ou se serão eles os responsáveis por tornar verdade o aforismo de Madame Stael-Holstein.

O desenvolvimento psicológico não fica estagnado e as possibilidades de mudança comportamental continuam em aberto

13 de Abril: Dia Mundial do BEIJO


     
  "Beijo na face
Pede-se e dá-se:
Dá?
Que custa um beijo?
Não tenha pejo:
Vá! (...)

Guardo Segredo,
Não tenhas medo...
Vê?
Dê-me um beijinho
Dê de mansinho,
Dê!

Como ele é doce!
(...)João de Deus, in "Campo de Flores"

Para se ter sucesso, além de Inteligência “intelectual” é necessário ter também Inteligência Emocional


O QI (Quociente de Inteligência) e a inteligência emocional não são capacidades opostas, mas destintas. Todos os seres humanos compatibilizam competências intelectuais e emocionais. Na verdade, há uma ligeira correlação entre intelecto e aspetos da Inteligência Emocional. Deste modo, a performance dos indivíduos na sua vida é determinada não apenas pelo QI, mas principalmente pela Inteligência Emocional. Na verdade, o intelecto não pode dar o melhor de si sem a Inteligência Emocional, ambos são parceiros integrais na vida mental. Quando esta relação é positiva, a Inteligência Emocional aumenta, assim como a capacidade intelectual.


Deve-se estabelecer um equilíbrio entre ambas e não a supressão dos sentimentos. Todos os sentimentos têm o seu valor e significado. Gerir as emoções é a chave para o bem-estar emocional. Há sentimentos que desestabilizam emocionalmente os indivíduos, como a raiva, a ansiedade ou a melancolia.

É possível melhorar a inteligência emocional?

Goleman defende que a Inteligência Emocional pode ser alcançada através do treino e do esforço, mas isso requer persistência. Antes de mais, é necessário que as pessoas identifiquem exatamente o que querem alcançar. Devem identificar situações nas quais costumam utilizar as emoções de modo mais disfuncional. Ao realizar esse tipo de exercício durante um período, mais ou menos longo, a pessoa poderá substituir as emoções que deseja eliminar/gerir por outras mais adequadas e positivas, que acabam por se tornar naturais e automáticas.

Goleman reforça que a melhor maneira de tornar as pessoas mais inteligentes emocionalmente é começar a educá-las desde crianças. Os pais que são efetivamente preparadores emocionais, ou seja, educar os filhos emocionalmente e prepará-los para enfrentar os desafios da vida com inteligência. Ensiná-los a como reagir nas diversas ocorrências que podem vir a acontecer e dar-lhes estratégias para lidar com altos e baixos da vida.

Passa também pelo facto de os pais desenvolverem a sua própria Inteligência Emocional para perceber os sentimentos dos filhos e serem capazes de compreendê-los, tranquiliza-los e guiá-los, reconhecer a emoção como uma oportunidade de intimidade e orientação, ouvir com empatia e legitimar os sentimentos da criança, ajudar as crianças a verbalizar as emoções, promover a autonomia, impor limites e ajudar a criança a encontrar soluções para os seus problemas.

Os pais têm um papel fundamental na educação emocional dos filhos, mas também a escola deve assumir esse papel desenvolvendo algumas iniciativas promotoras e facilitadoras da Inteligência Emocional dos alunos e professores.

Também a nível profissional, cada vez mais o sucesso depende de outros fatores além da inteligência e do espírito de trabalho. As relações interpessoais, a capacidade de trabalho em grupo, a capacidade de ouvir e de se colocar na posição de outros, a capacidade de ouvir a nossa consciência, tornaram-se fundamentais num mundo em que cada vez mais o trabalho é realizado em equipa.


A ler:
Inteligência Emocional Parte I
Inteligência Emocional Parte II

Inteligência Emocional - PARTE I

Inteligência Emocional é a capacidade de perceber e exprimir a emoção, assimilá-la ao pensamento, compreender e raciocinar com ela, e saber regulá-la em si próprio e nos outros.
Mayer e Salovey (1990)
Quando o Esperto é Burro
Exatamente por que razão foi David Pologruto, professor de Física do ensino secundário, atacado com uma faca de cozinha por um dos seus melhores alunos é algo que continua aberto a debate. Mas os factos, tal como foram largamente divulgados, são os seguintes:
Jason H., pré-finalista e excelente aluno no liceu de Coral Springs, na Florida, estava decidido a entrar para a faculdade de Medicina. Mas não para uma faculdade de medicina qualquer – não, o seu sonho era Harvard. Aconteceu, porém, que Pologruto, seu professor de Física, lhe deu 80% num teste. Convencido de que a nota – um mero Bom – punha o seu sonho em perigo, Jason pegou numa faca de trinchar e, numa confrontação com Pologruto no laboratório de Física, esfaqueou o professor no pescoço antes de ser dominado pelos outros alunos.

Um juiz declarou Jason inocente, momentaneamente louco durante o incidente – um painel de quatro psicólogos e psiquiatras jurara que o jovem se encontrava psicótico durante a luta. Jason testemunhou que planeara cometer o suicídio por causa da má nota. Pologruto contou uma história diferente: “Penso que ele estava absolutamente decidido a matar-me com aquela faca” por estar furioso com o que considerava uma nota injusta.

Depois de ter sido transferido para um colégio particular, Jason graduou-se dois anos mais tarde como o primeiro da sua classe. Uma notação perfeita nas aulas normais ter-lhe-ia dado um A, ou seja, uma média de 4,0, mas o nosso jovem fez vários cursos adiantados que colocaram a sua média em 4,614 – bem acima de um A+. Mesmo depois de Jason se ter graduado com honras, o seu antigo professor de Física, David Pologruto, continuou a queixar-se de que ele nunca tinha pedido desculpa ou assumido a responsabilidade pelo ataque.

A questão é: como pôde alguém tão obviamente inteligente fazer uma coisa tão irracional, tão perfeitamente estúpida? A resposta: a inteligência académica tem muito pouco a ver com a vida emocional".
(Goleman, 1995, pg.53)

Há numerosíssimas exceções à regra de que o QI prediz o êxito; na realidade, são mais exceções do que a regra. Na melhor das hipóteses, o QI contribui com cerca de 20% para os fatores que determinam o êxito na vida, o que deixa 80% para outras forças –entramos no domínio da Inteligência Emocional. Ou seja, a capacidade de a pessoa se motivar a si mesma e persistir a despeito das frustrações; de controlar os impulsos e adiar a recompensa; de regular o seu próprio estado de espírito e impedir que o desânimo subjugue a faculdade de pensar; de sentir empatia e de ter esperança.



Goleman (1995) defende o papel crucial que as emoções têm na vida diária. Considera que a Inteligência Emocional caracteriza a forma como os indivíduos lidam com as suas emoções e com as das pessoas ao seu redor. Isto implica autoconsciência, motivação, persistência, empatia e entendimento; para além disso, exige ainda características sociais como persuasão, cooperação, negociações e liderança.

Goleman divide a Inteligência Emocional nas seguintes cinco competências emocionais:
  1. Autoconhecimento Emocional, a capacidade de identificar e evocar os estados emocionais e de compreender a ligação entre emoções, pensamento e ação. Esta competência é fundamental para que o indivíduo tenha confiança em si próprio e tenha consciência dos seus pontos fortes e fracos;
  2.  Controlo Emocional, a capacidade de controlar os estados emocionais, controlar emoções ou evocar estados emocionais mais adequados;
  3. Automotivação, a capacidade de ter um papel ativo nos estados emocionais associados com um movimento de vontade e sucesso;
  4. Capacidade de empatia, saber colocar-se no lugar do outro, reconhecer emoções nos outros, a capacidade de identificar, compreender e influenciar positivamente as emoções da pessoa.
  5.  Capacidade de fazer e manter relações interpessoais satisfatórias.
As três primeiras competências acima mencionadas referem-se à inteligência intrapessoal (= capacidade de relacionamento consigo mesmo, o autoconhecimento; a capacidade de administrar os seus sentimentos e emoções a favor dos seus próprios interesses e projetos). As duas últimas, à inteligência interpessoal (=capacidade de compreender os outros; a forma como se aceita e convive com o outro).

Segundo Goleman, estas competências apresentam-se de forma hierárquica: na base da sua hierarquia, a “competência 1” é a capacidade de identificar um estado emocional próprio. Algum conhecimento da primeira é necessário para se passar para a competência seguinte. O conhecimento e/ou a competência nas primeiras três competências mencionadas são necessários para interpretar positivamente e influenciar emoções doutra pessoa – “competência 4”. As primeiras quatros competências conduzem a uma competência global de incorporar e sustentar relacionamentos satisfatórios para ambas as partes – “competência 5”.


Fontes:
Goleman, D. (1995): Inteligência Emocional. Lisboa: Temas & Debates
Salovey & Mayer (1990): Emotional Intelligence. In Imagination, Cognition and Personality, n.º9, 185-211, revista da American Association for the Study of Mental Imagery.