Frase do dia: "Por vezes, a solução está em intervir em contingências simples, 'nas pequenas coisas da vida'." [15]


Este fim-de-semana resolvi rever um dos meus filmes favoritos: "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain". 
Um filme de rara sensibilidade e inteligência, atuações perfeitas e uma banda sonora maravilhosa (pode ouvir AQUI )
E, além de tudo isso, é uma verdadeira aula Behaviorista – “programação de contingências” (Amélie Poulain torna-se numa hábil programadora de contingências, intervindo nas condições da sua realidade envolvente e, com isso, mudando para melhor a vida daqueles que conhece).
Dúvidas? Continue a ler...
Logo no início do filme entendemos que o tema principal é a solidão (a verdadeira vilã contra a qual Amélie lutará)...





Amélie teve uma infância muito solitária. Ficou cedo sem mãe e foi educada em casa. Contou apenas com o pai, homem deprimido após a viuvez.






Aos 28 anos, decide ir morar sozinha  para os subúrbios de Paris, onde consegue um emprego num Café.
Vive uma vida privada de amigos, sem namorado, sem amor, contando apenas com um pai deprimido que mora longe.

Mas um dia algo inesperado ocorre. Por pura casualidade, Amélie encontra uma caixa que havia sido perdida há décadas por um menino. Trata-se de um verdadeiro tesouro da infância de alguém. Amélie resolve encontrar o dono, já um senhor, e devolve-lo.

E é isso que ela faz. Agindo como detetive, descobre o dono, chamado Bretodeau, e prepara uma situação extraordinária para lhe devolver o tesouro da sua infância sem que ele saiba quem o entregou.
Assim que vê o seu tesouro, o senhor Bretodeau, um homem de 50 anos, triste e solitário, recorda-se da sua infância feliz, o que o emociona:
Bretodeau decide que voltará a valorizar a vida. (Uma espantosa recuperação espontânea de
comportamentos já extintos relacionados com a procura da felicidade).

Amelie, satisfeita, entende que o que fez com Bretodeau foi apenas uma experiência-piloto. Ela decide fazer o mesmo com outras pessoas: ajudar a humanidade a ser mais feliz.


Ainda embalada pelo seu primeiro sucesso, faz uma segunda experiência, de baixo custo: ajuda um mendigo cego a chegar ao metro.
Porém ela faz mais do que isso: no caminho, descreve de forma poética o que se podia ver na rua, explicando o que estava a gerar os sons, os cheiros, as texturas que cego podia sentir. Quando é deixado no metro, o mendigo sentia-se em êxtase pela experiência sensorial que a jovem misteriosa lhe proporcionou!



Nessa altura, Amélie já entendeu que tem o poder de intervir nas contingências, alterando-as para ajudar as pessoas. 
Continua... 
Resolve aproximar dois solitários que conhecia de seu emprego no café.

Amélie inventa uma história... Diz ao Joseph ( que ama Gina, que não quer nada com Joseph) que Georgette (quarentona solitária e hipocondríaca que não ama ninguém) está apaixonada por ele. E diz o mesmo de Joseph à Georgette.
Resultado: após alguns truques de Amélie, ambos acabam por se apaixonar mesmo e começam uma relação intensa, que os tira da solidão e os leva à felicidade a dois. 

Agora é a vez de Amélie ajudar outra pessoa: Hipolito, um escritor frustrado, sem sucessos editoriais.
Como Amélie resolveu ajudá-lo? Escreve um trecho de uma obra sua numa parede da rua onde ele costumava passar todos os dias:
Feliz da vida por ter finalmente recebido um reforço positivo pelo seu trabalho, Hipolito continua o seu trajeto assobiando e motivado.




Finalmente, depois de todos estas experiências bem-sucedidas, Amélie sente-se hábil para ajudar uma pessoa mais íntima: o seu pai.
E a forma que encontrou para o fazer é hilariante. Como o seu pai não a ouve e não está sensível à sua própria solidão de viúvo, Amélie encontra uma forma criativa de lhe dizer: "Pai, vá viajar e aproveite a vida". Amélie providencia que um anão do jardim do pai cruze o mundo. Nos diferentes destinos da viagem do anão, alguém o fotografava num determinado ponto turístico e enviava cada uma dessas fotografias para o pai.




Injuriado com a felicidade do anão viajante, o pai de Amélie finalmente entende o conselho. Ou melhor, a operação estabelecedora (geradora de "motivação", que aumentou o reforço para viajar) foi forte demais: o pai pega nas malas e vai ele mesmo viajar, para aproveitar a vida, como o anão fez (um caso curioso de modulação!)
E, só no final do filme, é que Amélie, recebendo alguma ajuda de seus amigos, consegue ajudar uma última pessoa solitária a encontrar a felicidade: ela mesma!
Este belíssimo filme é sobre solidão (privação social e amorosa) e sobre como a solução está em intervir em contingências simples, nas "pequenas coisas da vida". Amélie descobre que já que o mundo está cheio de pessoas solitárias, basta dar uma ajudinha ("arranjar as contingências") para fazer com que a solidão desapareça, fazendo com que essas pessoas se liguem umas às outras e, assim, à vida!

5 comentários:

  1. that looks so great :)

    natalie
    http://lucyandtherunaways.blogspot.com

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  2. É um filme que nunca vi! Vou ver e depois acabo de ler este "post"!

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  3. Tens razão...esta publicação não é aconselhável para quem ainda não viu o filme!!
    A ideia não era contar a história, mas sim efetuar uma análise behaviorista/comportamentalista do filme (Analise funcional da situação, intervir nas contingências e aguardar as consequências).
    Eu aconselho.
    Beijinho

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  4. Hi Lili, I love the movie and Amelie's´character, but never thought about why is she acting like that, so this analysis was really cool to read, thank you:)kisses

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