Não se iludam... falar de amor não é só uma necessidade de poetas!

Não vos parece que no nosso mundo o amor tem um estatuto ambíguo?

Por um lado, repetimos, vezes sem conta, que a vida não pode ser só trabalho, não pode ser só atividades que deixam de lado uma certa qualidade de investimento afetivo.
Por outro lado, achamos apatetadas e piegas as manifestações públicas de amor e as histórias que vamos conhecendo. Histórias de amores cruzados, encontros fortuitos, desencontros planeados. Ficamos, por exemplo, sem jeito quando os amigos (homens e mulheres já feitos!!) se desfazem em lágrimas porque o seu amado partiu, foi-se, desapareceu.
O cenário não melhora se se tratar de um jovem adolescente com menos vivência mas com idênticas crises de ansiedade e a convicção de que a vida vai colapsar e o mundo desfazer-se, porque ficou sem o seu amor.

Se, entretanto, as relações decorrem calmas, sem soluços, convulsões nem aflições, tendemos a pensar no hábito, no utilitarismo e no conformismo, como se, o bem-estar consecutivo tivesse qualquer coisa de entediante e artificial.

Acresce que, por qualquer púdica razão muito precocemente enraizada, evitamos expressar as emoções e falar nos sentimentos e comportamentos que giram em volta de alguém que desejamos e amamos.
Por vezes, fico com a sensação que só em jeito de brincadeira e com a leveza própria do que não é importante, nos é permitido abordar emoções, por mais violentas e intensas que sejam.

Feitas as contas, ficamos sem saber o estatuto que deve ter o amor, o lugar que é suposto ocupar nas nossas vidas, o que é mais adequado para não cairmos no ridículo, para não fazermos figura de pinga-amores ou, pelo contrário, para não sermos vistos como chatos insensíveis e desinteressados. 

Não se iludam... falar de amor não é só uma necessidade de poetas!